Em 2009, a cantora norteamericana Miley Cyrus, até então famosa por protagonizar a série da Disney “Hannah Montana”, lança o que viria de ser uma dos maiores hits de sua carreira: o single Party In The USA (Festa nos Estados Unidos, em tradução livre).
A música não só tocou incansavelmente nas rádios do mundo inteiro como também dentro do que se tornaria uma das casas noturnas mais frequentadas pelos jovens do litoral de Santa Catarina: o 1007.
Uma década se passou desde que a “Boite Chik” abriu suas portas na Alameda Adolfo Konder, centro da capital Florianópolis (SC), nº 1007, claro.
A estrutura, que comportava duas pistas com DJs, quatro bares, fliperama, nunca foi uma ostentação perto de outros clubes noturnos ofertados pela badalada Ilha da Magia – embora isso não fosse problema para quem pagava R$25 o ingresso de entrada.
O que chamava atenção dos marmanjos universitários daquela época – dos quais hoje muitos estão casados, com filhos e fora do fervo – era outro tipo de divertimento: aquele que se distanciava dos óculos Evoke das raves eletrônicas, nem chegava perto da camisa polo dos sertanejos e estava mais próximo do indie rock e da música pop americana.
De fato, uma “Festa Nos Estados Unidos”.
OS COPOS E OS “POLE DANCE”
Assim como Carminha e Nina estão para Avenida Brasil, o sucesso destes dois itens de decoração estão para o 1007.
Assemelhando-se aos tradicionais copos vermelhos vistos nas festas americanas mostradas nos filmes, os copos de plástico distribuídos dentro dos eventos logo viraram uma “marca registrada” de uma noite de 1007. Todos queriam um party cup para levar de lembrança e chamar de seu.
Além disso, os canos de pole dance na pista também se tornaram outro objeto de desejo por quem resolvia passar pelo 1007: dançar ao redor da barra como se estivesse em um strip club por vezes se tornava motivo de brincadeira entre os amigos e outras uma tentativa de desaforar os desejos íntimos de (tentar) sensualizar na noite.
OS TEMAS
Cada final de semana deveria ser um desafio para o pessoal do marketing do Grupo 1007 – talvez ainda seja.
Festas por si só precisam chamar a atenção e isso todo bom realizador de eventos sabe bem. No 1007, o público já viu de tudo um pouco e já foi motivo de filas quilométricas em sua entrada.
Praticamente, quase tudo virou tema de festa na 1007. E quando digo tudo, é tudo que pertence à cultura pop americana e brasileira. Desde a incorporação de memes como a Grávida de Taubaté – como esquecer? – até franquias como Pokémon, Harry Potter, Meninas Malvadas e High School Musical tiveram sua vez em noites recheadas de decorações que faziam alusões a essas produções queridas pelo público jovem.
Embora 10 anos tenham se passado, é curioso observar que a casa não abandonou temas antigos como “iMatch” (a qual promove uma combinação inusitada de casais através de senhas iguais que dão direito à brindes no bar), “241” (em que público aproveita promoções de bebida em dobro) e Work (propondo o dobro de consumação para um valor mínimo colocado na pulseira).
A EXPANSÃO
Time que tá ganhando não se mexe?
Se mexe, sim.
Após 5 anos de festas intensas em Floripa, o grupo resolve apostar na “capital catarinense do turismo”. A filial “1007 Balneário Camboriú” é inaugurada em novembro de 2014 na Avenida Atlântica, Barra Sul da cidade, bem em frente à Praia Central.
As coisas foram bem. Digamos, bem até demais.
Filas quilométricas para entrar ao mesmo tempo que desanimava marinheiros de primeira viagem, empolgava quem já era amante do estilo “1007 de diversão”.
Não demorou muito para a chefia começar a planejar outras filiais. Surge então a “1007 São Paulo”, localizada na movimentada Rua Augusta da capital paulista, e a “1007 Rio de Janeiro”, essa já não tão bem sucedida na capital carioca.
CONVIDADOS E EVENTOS E ESPECIAIS
É de gente especial que se faz uma noite especial.
E quem bateu cartão no 1007 pode conferir algumas estrelas da cultura pop brasileira como Gretchen, Bruna Surfistinha, Inês Brasil, Ludmilla, Pabllo Vittar, Lia Clark, entre outras.
O grupo chegou a apostar em eventos de dimensões maiores: surge o “1007 Festival”, realizado primeiramente no Music Park de Florianópolis, em 2016 e mais tarde o “1007 Delivery”.
Saindo dos seus QGs de propriedade, vans e ônibus traziam os público de Itajaí e Balneário Camboriú para poder curtir o mesmo clima da casa noturna em ambientes que comportavam um número maior de pessoas.
RESPEITO NO ROLÊ
O programa “Respeito no Rolê” foi uma iniciativa do 1007 criada para conscientizar e prevenir casos de desrespeito, machismo, homofobia, transfobia, racismo e qualquer outra forma de intolerância durante suas festas.
Na prática, o método, que diz respeito à uma equipe que veste a cor rosa dentro da casa, consiste na orientação que todos aproveitem a festa sem preconceitos e discursos de ódio, cada um com o seu jeito de ser.
Caso o cliente da casa presencie alguma cena desconfortável, medidas são tomadas.
O projeto ajudou a casa a ganhar mais credibilidade perante a comunidade LGBT que marca presença forte nos eventos.
O LEGADO
O que uma casa noturna representa para uma cidade?
Lucro, oportunidades, empregos, diversão – talvez.
Em dez anos, o Grupo 1007 fez parte da vida de muitos jovens que preferiam optar por uma noite de entretenimento mais acessível e “fora da caixa”.
O conceito deu tão certo, que é fácil identificar outros “1007s” pelo estado de Santa Catarina.
Através da mente criativa do marketing, da produção e as playlists dos Djs, os clientes que escolhem passar a noite no 1007 ao longo de uma década puderam festejar não só a liberdade de ser quem são, como também celebrar a riqueza da cultura pop que outros estabelecimentos não tem a audácia de promover: uma Festa nos Estados Unidos.
por LUCAS MACHADO
jornalista
DRT 0006544/SC
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