Davi André Dallagnol Rossoni tem 27 anos. Vive com Naura, é “pai” de pet, tem cara de mau, mas dizem que é um “amorzinho”. O que muita gente não sabe é que Davi é um homem trans, que está em busca da cirurgia de mastectomia, a retirada dos seios. Para arrecadar o valor total do procedimento, os amigos já fizeram vaquinha, rifa e a casa noturna, The Grand, lançou um drink especial com o nome dele.
“Eu me descobri como um homem trans aos 24 anos, somente depois que saí da cidade onde morava, no Rio Grande do Sul, e me mudei para Santa Catarina. Aqui, tive de fato contato com pessoas que me ajudaram a entender o que eu sentia, em relação ao meu corpo”, explica Davi, que faz tratamento hormonal há cerca de um ano.
A verdade é que, de acordo com ele, sempre preferiu estar entre os meninos desde a infância, mesmo sofrendo bullying das outras crianças. “Sempre tinha alguém me chamando de ‘Maria Macho’ e eu chorava porque não gostava de ser chamado assim. A todo momento eu tentava me encaixar em ‘como uma menina deve parecer’, com roupas femininas e cabelo comprido, por exemplo, e isso me magoava muito”, revela.
Ele lembra que à medida em que foi conhecendo mais sobre ele mesmo e sobre o “universo” trans, ele ainda não se preocupava com o tratamento hormonal e nem pensava na cirurgia. “Em 2021 decidi começar meu tratamento hormonal por não me sentir bem com minha voz, meu corpo, meu rosto… meu sonho desde criança foi o de ter aquelas barbas de lenhador”, conta Davi, explicando que pode não parecer muito, mas que mudou bastante do início do tratamento, até agora. “Mesmo fazendo tratamento, as pessoas continuam me chamando no feminino e isso me traz gatilhos, além de ser cansativo ter que explicar que não é ela. Cheguei a tatuar na testa ‘ELE’ para ver se me respeitam por eu ser quem eu sou”, fala.
Incongruência de Gênero
Para a maioria das pessoas, o sexo biológico (de nascimento), identidade de gênero e papel de gênero é o mesmo. Entretanto, as pessoas com incongruência de gênero tem algum grau de incompatibilidade entre sexo biológico e a identidade de gênero, como no caso do Davi.
“Durante meses eu me olhava no espelho e não era do meu agrado o que eu estava vendo, tento ao máximo não olhar no espelho, porque esse sentimento, de incompatibilidade, é grande. Quando era mais novo, ficava infeliz por ter seios pequenos. E, hoje, eu não quero mais que eles façam parte de mim, eles não condizem com a pessoa que sou”, revela Davi.
Ajuda
A cirurgia de mastectomia de Davi custará R$ 16 mil, além das despesas em locomoção e estadia de 5 a 7 dias em Porto Alegre, local da cirurgia. Para arrecadar a quantia, os amigos fizeram uma vaquinha e uma rifa online, que, até o momento, arrecadou cerca de R$ 2.000,00.
Para contribuir ainda mais com a causa, a casa noturna The Grand, local em que Davi trabalha, lançou nesta semana um drink especial, que leva o nome “Davi”, e terá parte do valor arrecadado destinado para o rapaz. “O Davi trabalha conosco como garçom há muito tempo, e sempre foi uma pessoa muito educada e elogiada pelos clientes. Assim, vamos utilizar nossa voz para dar visibilidade e também arrecadar fundos para que ele consiga atingir seu objetivo, e ser plenamente feliz”, fala um dos sócios da The Grand, Juan Frohn.
As contribuições podem ser feitas pela vaquinha online, comprando um número da rifa online ou nos eventos da The Grand, que ocorrem de sexta a domingo, na Rua 4500, 50, em Balneário Camboriú, pedindo pelo drink “Davi”, por R$ 25.