A recente polêmica envolvendo o ex-prefeito de Balneário Camboriú, Leonel Pavan, e uma moradora do Bairro da Barra, desencadeou uma forte reação por parte da comunidade local. O episódio, que ocorreu durante um evento de campanha no último sábado (17), trouxe à tona antigas feridas relacionadas ao fechamento de pedreiras na região, durante o mandato de Pavan na década de 1990. O fechamento, segundo os moradores, resultou em dificuldades financeiras para muitas famílias que dependiam da extração de pedras como meio de subsistência.
A moradora em questão, identificada como Camila, manifestou-se de forma espontânea ao encontrar o ex-prefeito perto de sua casa, lembrando o trauma vivenciado por sua família após a prisão de seu pai, um dos “broqueiros” da região. Em resposta, a campanha de Pavan classificou a reação de Camila como uma “armação política” arquitetada pela equipe do candidato adversário, Peeter Grando, o que gerou indignação entre os moradores locais.
Em uma nota contundente, a Associação de Moradores do Bairro da Barra, juntamente com as famílias dos antigos trabalhadores das pedreiras, repudiou a tentativa de desacreditar o sofrimento das famílias locais e de explorar o episódio para fins políticos. A presidente da Associação, Áurea Loch, destacou que a reação de Camila foi um desabafo legítimo e representou a dor de muitas famílias que, à época, perderam seu meio de sustento e foram deixadas desassistidas.
“A reação da nossa moradora ao encontrar o ex-prefeito em frente à sua casa foi, sim, um grito de desabafo, de constrangimento e de mágoa”, afirmou Loch, em defesa de Camila. A nota enfatiza que o sofrimento causado pela decisão de fechar as pedreiras ainda persiste entre os moradores, muitos dos quais continuam a carregar as cicatrizes daquele período.
A tentativa de desqualificar a reação de Camila, por parte dos apoiadores de Pavan, foi amplamente criticada pela comunidade. Moradores apontaram que o episódio revela um desprezo pela história e pelos sentimentos das pessoas que viveram essa experiência traumática. Além disso, um jornal local foi acusado de tentar minimizar o impacto do episódio ao sugerir que a moradora não teria idade suficiente para lembrar dos fatos, o que intensificou ainda mais a revolta contra Pavan.
Este incidente, marcado por fortes acusações e contra-acusações, expõe as tensões políticas em Balneário Camboriú. A polêmica já está sendo vista como um possível revés para a candidatura de Juliana Pavan, filha de Leonel Pavan, que poderá enfrentar dificuldades para conquistar o apoio dos eleitores da região sul da cidade.
Veja a nota da associação de moradores na íntegra:
“NOTA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO DA BARRA
MANIFESTO EM DEFESA DA NOSSA GENTE!
A Associação de Moradores do Bairro da Barra e as famílias dos nativos Broqueiros da Região Sul, berço histórico de Balneário Camboriú, vêm por meio desta nota restabelecer a verdade sobre os fatos envolvendo a nossa gente, os filhos dos nativos desta terra, da nossa comunidade, pessoas trabalhadoras e que amam este lugar.
Considerando os fatos noticiados pela imprensa local e tratados como uma “armação política” por aqueles que desconhecem a história, temos o dever de informar que tudo o que envolveu o episódio da prisão dos broqueiros à época, é legítimo, genuíno e verdadeiro.
A família da moradora, a Sra. Camila, uma nativa da nossa comunidade, filha de um trabalhador e chefe de família, um dos muitos que tiravam seu sustento da pedreira, é parte dessa história. Assim como ela, dezenas de famílias dependiam desse trabalho para sobreviver – os chamados Broqueiros.
Naquela época, toda a nossa comunidade sabia que esse era o único meio de renda para segurança alimentar de muitos. Quando o trabalho na pedreira foi interrompido, nossas famílias ficaram desassistidas, enfrentando diversas dificuldades, principalmente a falta de comida para suas esposas e filhos.
Nossos trabalhadores, apesar da proibição, não tiveram alternativa senão voltar ao trabalho para garantir o que comer. Infelizmente, foram presos sem qualquer apoio da gestão municipal da época, do então prefeito, Sr. Leonel Pavan.
A reação da nossa moradora ao encontrar o ex-prefeito em frente à sua casa foi, sim, um grito de desabafo, de constrangimento e de mágoa. Mágoa por ter crescido em um ambiente marcado por esse trauma, que persiste até os dias atuais, não somente dela mas de muitos outros moradores do local.
O desabafo da Camila é um grito engasgado dessas dezenas de famílias que cresceram com a triste lembrança das dificuldades enfrentadas por seus pais, que de um dia para o outro perderam seu sustento. Quem não passou por isso jamais entenderá.
Nós, moradores deste bairro, não vamos aceitar que tentem desacreditar este triste período da nossa história, fazendo crer que houve uma exploração de cunho eleitoral com a reação da Camila a presença do ex-prefeito.
Trataram nossa gente como sub-humanos, esquecendo que por trás de cada trabalhador havia uma família, filhos da nossa terra, hoje pais e mães de família, como a Camila, que sofreram a dor da humilhação e a falta de amparo da gestão municipal da época.
Finalizando, reiteramos nosso compromisso com os moradores e famílias da nossa comunidade e o respeito com a nossa trajetória histórica e cultural, em especial com esses trabalhadores, que se dedicaram trabalhando e os muitos que perderam sua vida no exercício dessa árdua função.
Áurea Loch
Presidente da AMBBA.“