BALNEÁRIO CAMBORIÚ – Fernanda Ademek, de 22 anos, estava grávida de cinco meses e esperava ansiosamente por dezembro, para conhecer seu mais novo filho. Mas na última sexta-feira, 03.set.2021, recebeu uma péssima notícia: o feto estava morto em seu ventre.
O pesadelo começou após Fernanda buscar atendimento médico em Bombinhas, onde mora, pois seu bebê de 23 semanas não estava se mexendo. No hospital não conseguiram ouvir os batimentos cardíacos do feto e por esse motivo a mãe foi transferida para o Hospital Ruth Cardoso (HMRC), em Balneário Camboriú, onde segundo ela, sofreu violência obstétrica.
A jovem relata que após chegar no Ruth Cardoso, ficou aguardando atendimento durante uma hora. Após duas horas, foi realizado o ultrassom que confirmou a morte fetal. “Fui internada e começou o inferno na minha vida, além de estar em choque por estar com um filho morto dentro de mim, fui maltratada pelo hospital”, conta a paciente.
Segundo ela, foram inseridos três comprimidos para induzir o parto. No sábado, 04, por volta do meio dia, Fernanda começou a sentir fortes dores e em certo momento uma enfermeira realizou o exame de toque, dizendo que estava tudo normal e que o bebe ainda não estava saindo. Dois minutos depois, ela foi ao banheiro e o feto caiu dentro do vaso sanitário. “Por culpa dela que falou que eu não estava em trabalho de parto, fui no banheiro e meu filho caiu dentro do vaso sanitário. Entrei em desespero, meu marido também, não sabíamos o que fazer. Ele começou a gritar, chamar alguém”, relata Fernanda.
Fernanda segue desabafando, “a enfermeira voltou me levantou e disse nas exatas palavras ‘dá descarga, pai, dá descarga’. Meu marido sem entender e em choque com tudo, eu chorando desesperada, fez o que ela mandou”.
Ainda de acordo com Fernanda, nesse momento a enfermeira chamou um médico. “Ela saiu a procura do médico e eu ouvi ela falando ‘o pai deu descarga’. O médico entrou no quarto, não me olhou, nem se eu estava bem, apenas foi até o banheiro e gritou ‘tratem de achar essa criança, pois isso é ocultação de cadáver’.”
A enfermeira negou que deu a ordem de dar a descarga. Segundo a família, a mulher culpou o pai da criança e outras duas enfermeiras pelo que tinha acontecido.
Por fim, o hospital precisou quebrar o vaso sanitário para realizar a retirada do bebê. “Quebraram o vaso pois meu filho estava preso. Por pouco ele não vai pra fossa. Ele estava dentro da placenta, então era muito grande pra passar”, relembra.
A mamãe da criança que virou anjo, lamenta o fato de não poder enterrar seu bebê. “Não me falaram as medidas dele nem nada, pedi pra trazer meu filho, porque iria enterrar, mas não deixaram eu trazer. Perguntei pra onde ia, mas não falaram, ele era grande, lindo, todo perfeito com toda certeza eu poderia trazer e enterrar meu filho”.
Não bastasse o trauma, Fernanda reclama que demorou quatro longas horas para fazer ultrassom para ver se havia ficado algum resto dentro dela, e depois mais duras horas para fazer corretagem. Os únicos momentos em que viu médico foi na hora que deu entrada e na hora que o filho estava no vaso sanitário. “Ainda veio só pra gritar que iam todos pra cadeia.”
A paciente conta que tornou o caso público para que isso não ocorra mais com nenhuma outra mãe. “Além de ter meu filho morto, tive que passar por tudo isso”, finaliza.
Hospital nega diálogo de enfermeira e médico
O HMRC se manifestou através de uma nota de esclarecimento, contrariando a versão da paciente. Segue reproduzida na íntegra abaixo:
“Sobre o caso de aborto ocorrido no Hospital Ruth Cardoso no último dia 02 de setembro, esclarecemos que a paciente deu entrada no Hospital neste mesmo dia, às 18:00h, proveniente de uma Unidade de Pronto Atendimento do Município de Bombinhas, já com feto em óbito, conforme encaminhamento médico.
Em ato contínuo, no Centro Obstétrico do Hospital Ruth Cardoso, a paciente foi submetida a exames, inclusive por imagem, confirmando o óbito do feto.
A enfermeira, dentro dos procedimentos normais, orientou a paciente e prestou os cuidados médicos necessários ao caso.
Na questão da descarga, A PACIENTE FOI ORIENTADA A FICAR EM REPOUSO, mas levantou sem chamar a enfermeira para ir ao banheiro, local onde ocorreu o aborto. Ao ser chamada, a enfermeira constatou que o vaso sanitário estava cheio de água e orientou para NÃO DAREM DESCARGA, e chamou o médico e a equipe responsável para retirada do feto do local, pois a placenta obrigatoriamente tem que ser encaminhada para exame patológico.
Tanto médico como enfermeira e equipe, dentro das suas atribuições agiram com zelo e dedicação.
O Hospital Ruth Cardoso esclarece também que devido à vedação legal, não podem ser divulgados dados do prontuário médico para terceiros, a não ser para o próprio paciente. Mas afirma que a paciente recebeu todo o suporte da equipe multidisciplinar, além da enfermagem, psicologia e serviço social, bem como orientação dos procedimentos a serem adotados com relação ao feto e legislação em vigor.
Segundo a legislação brasileira, é considerado aborto a expulsão ou extração de um embrião ou feto com peso inferior a 500 g ou estatura menor que 25 cm ou idade da gestão inferior a 20 semanas. Como não houve manifestação dos familiares dentro das 24 horas no desejo de retirada do concepto, devidamente informados, foi dada a destinação conforme normas do Ministério da Saúde e ANVISA para esses casos especificamente.
Finalizando, reiteramos que todos os procedimentos da equipe multidisciplinar, acompanhamento e suporte ao casal foram realizados.
A Direção do HMRC”
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