Um grupo de aproximadamente 400 mulheres, participantes do Projeto de Defesa Pessoal Feminina, idealizado e conduzido pelo Guarda Municipal Felipe Platt desde 2019 com apoio da Secretaria de Segurança de Balneário Camboriú, está se mobilizando contra a reformulação imposta pela nova gestão da prefeitura. A mudança, que ocorreu sem qualquer consulta às alunas, resultou no afastamento do idealizador e na alteração da estrutura do projeto, gerando forte indignação entre as participantes.
Diante do que consideram uma decisão arbitrária, as alunas intensificam seus esforços para serem ouvidas pelo poder público e garantir a continuidade do projeto em seu formato original, que há cinco anos vem impactando positivamente suas vidas.
Um Projeto Bem-Sucedido, Interrompido Sem Justificativa
O projeto, que foi desenvolvido ao longo de cinco anos com o apoio da prefeitura municipal, (confira vídeo divulgado pela antiga gestão) era realizado na sede da Guarda Municipal e também contava com o respaldo da Casa da Família. No entanto, a nova gestão decidiu interromper as atividades por 30 dias, justificando que o programa passaria por uma reformulação e teria seu nome alterado para “Luta por Elas”. Segundo a prefeitura, a mudança visava tornar o projeto “institucional” em vez de “pessoal”. Com essa reestruturação, a responsabilidade pelo programa foi transferida para o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Guardas (CEFAG), coordenado por Gustavo Belz Souza. Além disso, as aulas, que antes eram ministradas por Felipe Platt, passaram a ser conduzidas por professores cedidos pela Fundação Municipal de Esportes (FME).
Apesar do discurso elaborado pela gestão, a realidade relatada pelas alunas é outra. A maior crítica à mudança não está apenas na reformulação do projeto, mas na forma como a decisão foi imposta. As mulheres que participam da iniciativa não foram consultadas em momento algum, e o idealizador foi abruptamente afastado sem sequer a opção de continuar como padrinho ou coordenador do programa.
Sentimento de Traição e Falta de Respeito
Muitas alunas relataram que, quando o projeto foi interrompido, acreditaram que a pausa era apenas para ajustes e melhorias. No entanto, ao descobrirem que o instrutor e idealizador havia sido afastado, ficaram chocadas. A revolta cresceu quando a prefeitura ignorou completamente as reivindicações das mulheres envolvidas e sequer respondeu às manifestações que surgiram nas redes sociais.
O abaixo-assinado, que já conta com 333 assinaturas, expressa a insatisfação das alunas e pede a permanência do instrutor:
“Nós, abaixo-assinados, viemos expressar nossa profunda preocupação com a ausência do professor Felipe Borba Platt no Projeto de Defesa Pessoal Feminina. Reconhecemos que sua dedicação, conhecimento e liderança têm sido pilares fundamentais para o sucesso do projeto, capacitando e fortalecendo inúmeras mulheres em nossa comunidade desde 2019.
Com a notícia da ampliação do projeto, entendemos que a presença do professor Felipe Borba Platt nas aulas de defesa pessoal é essencial para a continuidade e eficácia do projeto. Sua experiência tem proporcionado um ambiente seguro e de aprendizado, onde as participantes podem desenvolver habilidades de autodefesa, autoconfiança e bem-estar emocional.
Solicitamos, respeitosamente, que as autoridades competentes tomem as medidas necessárias para garantir o retorno do professor Felipe Borba Platt aos treinos. Acreditamos que sua presença é vital para o sucesso contínuo e o impacto positivo do Projeto de Defesa Pessoal Feminina de Balneário Camboriú.”
Revolta Tomou as Redes Sociais
Com a recusa da prefeitura em atender às solicitações, as alunas passaram a protestar nas redes sociais. O vídeo publicado pela Secretaria de Segurança sobre a reformulação recebeu mais de 100 comentários, a maioria exigindo a volta do instrutor e denunciando a falta de voz das mulheres no processo. Muitos destacaram a incoerência da gestão ao se apropriar de um projeto já consolidado, retirando quem realmente o criou e o fez prosperar.
Confira alguns dos comentários das alunas:
- quin_naty: Ficou feio descartar sem a mínima honra o idealizador. Do que adiantou ano passado fazerem reconhecimento e agora nem dão voz a uma despedida, sequer pudemos expressar toda gratidão por todos os anos de projeto, todos dias de treino e carinho que desenvolvemos pelo instrutor Felipe. Isso ficou feio para a prefeitura. Não entenderam ou não ligaram para a realidade do que o projeto cultivou até então. Vai além do descaso com o idealizador, é um descaso com as alunas que abraçaram esse projeto e por isso está até hoje em pé.
- isapicoloto: Gostaria de saber pra que mexer em algo que estava dando tão certo? O prof Felipe é super capacitado e sempre nos ensinou tanto, sem contar que foi ele quem criou o projeto, muito bonito pegar o projeto já criado e colocar de lado quem criou e está desde o começo. Nós não vamos aceitar isso, queremos o Felipe
- bispo_suhh: Não não, isso é ridículo o programa não deveria ter parado e não deveria ter tirado o professor @felipe_platt ,o que a gente perguntou a @jupavan ela não respondeu,não deu ouvido nenhum as mulheres,isso é ridículo,não vamos aceitar queremos como estava ,a nossa turma o nosso instrutor, ninguém engole isso @jupavan queremos nosso professor por favor vc entendeu muito bem não mecha no que deu certo, bora pra cima meninas não vamos aceitar nem a pau…
- rosesil1301: Isso pra vcs que estão passando a mão grande no projeto é só mais um ..mais pro nosso Felipe é um sonho em que envolve a família agora isso vcs não sabem ou nem querem saber😢triste muito triste
- costaferraz.atelie: Escutam quem participa do projeto. NÃO precisa de reformulação, precisamos de quem acreditou em nós a 4 anos atrás . Quem nós ouviu e nos ajudou ao longo desses 4 anos. #voltafelipe
Quem são as mulheres que protestam? O vínculo das alunas com Felipe Platt
A grande repercussão do afastamento do professor Felipe Platt nas redes sociais levantou uma questão fundamental: quem são essas mulheres que se manifestam com tanta indignação? Por que defendem com tanta veemência a permanência dele no projeto? Para entender a dimensão desse movimento, conversamos diretamente com as alunas e descobrimos que a relação delas com Platt vai muito além de um simples instrutor de defesa pessoal. Seus relatos mostram o impacto transformador do projeto em suas vidas e a revolta com a forma como a prefeitura conduziu a reformulação.
“O projeto me deu segurança para enfrentar o mundo” – Linne Evangelista
Linne Evangelista ingressou no projeto depois que seu ex-marido começou a persegui-la, obrigando-a a buscar uma medida protetiva. “Cheguei ao projeto com medo, sem saber como me defender. O Felipe foi super atencioso, perguntou se eu já havia treinado alguma vez e me ensinou com toda paciência.” Com o tempo, Linne passou a se sentir mais segura nas ruas e encontrou no projeto um ambiente de acolhimento. “Sempre que eu parava de ir e voltava, era bem acolhida, como se nunca tivesse parado.”
Com a retirada de Platt, Linne se sente traída pela prefeitura. “Eles mudaram o nome do projeto, tiraram o fundador e mudaram o horário. Do jeito que o Felipe estava fazendo, estava dando certo. Agora, querem apagar tudo o que ele construiu.”
“A prefeitura ignora nossa voz” – Dani Cristofolini
Dani Cristofolini faz parte do projeto desde 2019 e acompanhou seu crescimento ao longo dos anos. “O professor Felipe sempre buscou parcerias para garantir materiais para as alunas. Com zelo, carisma e confiança, ele demonstrou ser um profissional disposto a repassar seus conhecimentos e transformar vidas.” Com a transferência do projeto para a Secretaria de Segurança Pública, o espaço ficou mais adequado e a participação de mulheres aumentou. “Muitas alunas tinham histórico de agressão e medidas protetivas, e encontraram nas aulas um refúgio.”
Para Dani, a retirada de Platt nunca foi explicada de maneira clara. “O projeto continuará na Secretaria de Segurança, mas com outros instrutores. Por quê? Por que não manter o professor Felipe?” A revolta dela se estende à prefeita Juliana Pavan. “Sendo mulher, deveria defender a voz das mulheres. Mas ignoraram completamente as alunas.”
“Um divisor de águas na minha vida” – Nátaly
Nátaly entrou para o projeto em 29 de julho de 2022, após ver divulgações nos stories da prefeitura e entrar em contato diretamente com o instrutor Felipe Platt, que prontamente respondeu suas dúvidas e a acolheu. Em um momento delicado de sua vida, lutando contra a depressão e frequentando grupos do CAPS, encontrou no projeto uma ferramenta essencial para sua recuperação. “Mesmo quando não podia frequentar, ou só não conseguia por estar deprimida, o professor Felipe me encorajava a voltar quando eu pudesse. Sem julgamentos, e sem pressa.”
Agora, com a reformulação imposta pela prefeitura, Nátaly sente que as alunas foram silenciadas. “Parece que não somos ouvidas. Apagam alguns comentários nossos nas publicações e passam a impressão de que estamos mentindo.” Para ela, a retirada de Platt foi proposital e sem diálogo. “O Felipe está escalado para GM e nem teve oportunidade de dizer se gostaria de continuar ou não no projeto. Eles sabem que ele quer continuar. E por isso nem perguntaram, só colocaram ele em uma escala impossível de participar.” Nátaly afirma que não continuará no projeto sob essas condições. “Não é por ter um novo instrutor ou por ser reformulado, mas porque foi injusto com todas nós que erguemos o projeto.”
“Uma nova chance após um relacionamento abusivo” – Andressa da Costa
Andressa da Costa conheceu o projeto no início de 2024, depois que uma prima a incentivou a participar. Saindo de um relacionamento abusivo, encontrou no grupo uma forma de recuperar sua autoestima. “Felipe sempre nos incentiva e diz que sempre podemos mais, que nossa força vai além do que imaginamos.”
A retirada de Platt a deixou revoltada, principalmente pela forma como foi feita. “O projeto continua na Guarda Municipal. Se vão colocar outros guardas, poderiam sim deixar ele continuar com outros instrutores juntos.” Para Andressa, o afastamento foi um desrespeito ao idealizador e às mulheres que encontraram no projeto um refúgio.
“Mexeram no que estava funcionando” – Marcela Balduino
Marcela Balduino entrou no projeto em 2020, quando enfrentava um quadro de depressão, e encontrou ali um espaço de acolhimento e aprendizado. “As aulas plantavam uma semente de ânimo, uma ajudava a outra. Além da defesa pessoal, o Felipe nos dava conselhos e apoio em momentos difíceis.”
A mudança imposta pela prefeitura, para ela, foi um golpe contra as alunas. “Acredito que a ampliação e regularização eram necessárias, mas não nos ouviram. No fim, encerraram o projeto e criaram outro no lugar, com um nome sugestivo. Agora virou ‘Luta por Elas’, mas elas quem?” Marcela também critica a escolha das novas responsáveis pelo projeto. “As meninas do vídeo sequer foram às aulas! Nem sabem falar como uma de nós falaria.” Como muitas outras alunas, ela não pretende continuar no novo formato. “A gente queria muito as aulas, mas isso foi um desrespeito com o Felipe e com a gente.”
“O projeto sempre foi sobre acolhimento e respeito” – Isa Picoloto
Isa Picoloto entrou no projeto em 2023 e rapidamente se encantou com o método de ensino de Platt. “A aula dele é bem interessante, me ensinou bastante e foi muito importante para mim, pois, como a maioria das mulheres, também tenho medo de sair sozinha.” Durante as férias, foi informada de que os treinos retornariam em janeiro, mas, quando chegou a data, veio a surpresa. “Recebemos do próprio professor a informação de que as aulas haviam sido suspensas, sem nenhuma explicação concreta.”
A frustração aumentou ao ver que a prefeitura simplesmente ignorou as reivindicações das alunas. “Eles querem mudar o projeto para melhorar, mas não estão ouvindo as próprias mulheres do projeto.” Para Isa, a decisão de retirar Platt foi puramente política. “Nós não queremos saber de política, nós queremos o projeto como sempre foi. Caso o Felipe não continue, eu realmente não vou continuar fazendo as aulas.”
“O projeto me deu segurança para enfrentar o mundo” – Linne Evangelista
Linne Evangelista ingressou no projeto depois que seu ex-marido começou a persegui-la, obrigando-a a buscar uma medida protetiva. “Cheguei ao projeto com medo, sem saber como me defender. O Felipe foi super atencioso, perguntou se eu já havia treinado alguma vez e me ensinou com toda paciência.” Com o tempo, Linne passou a se sentir mais segura nas ruas e encontrou no projeto um ambiente de acolhimento. “Sempre que eu parava de ir e voltava, era bem acolhida, como se nunca tivesse parado.”
Com a retirada de Platt, Linne se sente traída pela prefeitura. “Eles mudaram o nome do projeto, tiraram o fundador e mudaram o horário. Do jeito que o Felipe estava fazendo, estava dando certo. Agora, querem apagar tudo o que ele construiu.”
“A segurança que encontrei no projeto” – Cassia Araújo Mareco
Cassia Araújo Mareco, residente de Itajaí e aluna do mestrado em Turismo pelo IFSC, faz parte do projeto há um ano. Como trabalha e estuda durante a semana, sempre participou das aulas aos sábados, único horário que conseguia se deslocar até Balneário Camboriú. “Aprender a me defender me acrescentou muita segurança, principalmente porque moro sozinha. Além disso, os exercícios me proporcionam resistência física.”
Com a reformulação, Cassia ficou indignada ao ver que Platt foi afastado e os horários reduzidos. “Agora será somente nas segundas, quartas e sextas à noite, apenas uma hora.” Para ela, isso não é uma melhoria, mas um retrocesso. “Só volto para o projeto se o professor Felipe Platt continuar e se houver o horário de sábado.”
“Uma atividade que me fazia sentir segura” – Cecília Junkes Nagel
Cecília Junkes Nagel ingressou no projeto em junho de 2024 e, mesmo sem ter sido vítima de violência, encontrou ali um espaço seguro. “Aprendi a me defender e ali era um ambiente acolhedor para todas as mulheres.”
A retirada de Platt foi um choque para ela. “O professor Felipe sempre foi muito respeitoso e se dedicou muito ao projeto, dando aulas à noite, de manhã e até nos sábados.” Diante da reformulação, Cecília afirma: “Se o Felipe não voltar, não continuarei no projeto.”
“Um desrespeito com quem criou tudo” – Rose Telles
Rose Telles conheceu o projeto após passar por uma depressão profunda causada por complicações no parto e o abandono do marido. “Quando conheci o Felipe e as aulas, minha vida mudou. Ele sempre estava lá, não importava se fosse uma ou duas alunas.” O ambiente do projeto foi essencial para que ela recuperasse sua autoestima. “Só de estar no treino, o dia já ficava azul.”
A exclusão de Platt revoltou Rose, que não pretende continuar participando do projeto reformulado. “O que a prefeita e a nova administração estão fazendo é desumano. Prefiro pagar por aulas do que participar dessa sujeira.”
“Sem Felipe, o projeto perde seu propósito” – Sâmia Reda
Sâmia Reda ressalta que o projeto foi criado por Felipe Platt em homenagem à sua mãe, vítima de violência doméstica. “Pensando nisso, ele desenvolveu esse projeto lindo, que vem ajudando tantas mulheres.” Para ela, a retirada de Platt descaracteriza completamente a essência da iniciativa. “Sem ele, as aulas vão perder o brilho, o sentido.”
O apoio buscado na Câmara de Vereadores
Além de protestar nas redes sociais, as alunas também recorreram à Câmara de Vereadores em busca de apoio para reverter a decisão da prefeitura. Algumas procuraram parlamentares que já conheciam o projeto e pediram ajuda. O vereador Mazinho Miranda, ex-superintendente da Fundação Municipal de Esportes (FME), foi um dos primeiros a se manifestar publicamente.
Mazinho chegou a publicar um vídeo denunciando a suspensão das aulas e destacando a importância do projeto, mas rapidamente viu sua iniciativa ser abafada pela narrativa da prefeitura, que insistia que o projeto não havia sido encerrado, apenas pausado para reformulação. Em resposta à prefeitura, Mazinho fez um pedido de informação formal à prefeita, cobrando explicações sobre a suspensão do projeto.
Ao conversar com nossa equipe, o vereador explicou que entende a revolta das alunas, pois acompanhou ao longo dos anos como projetos esportivos criam vínculos que vão além do aprendizado técnico. “Se realmente tirarem o Felipe do projeto, ele vai arrastar essas mulheres para onde for, pois elas não estão ali apenas pela luta, estão ali pois encontraram alguém que as acolheu e de certa forma as protege.” Ele lembrou que, enquanto esteve à frente da FME, viu muitos casos em que a retirada de um professor levava ao esvaziamento de turmas inteiras.
Mesmo diante das justificativas da prefeitura, Mazinho se comprometeu a apoiar as alunas, reconhecendo que o vínculo emocional criado entre professor e alunas é um fator determinante para o sucesso do projeto.
A decepção com o vereador Samir Dawud
Outro vereador procurado pelas alunas foi Samir Dawud. De acordo com elas, Samir havia sido levado pelo próprio Felipe Platt a uma confraternização do projeto durante o período eleitoral e, naquela ocasião, se comprometeu a lutar pela continuidade das aulas, independentemente de quem estivesse no governo.
Para muitas alunas, no entanto, esse compromisso foi rapidamente esquecido. “O pior, o pior é o Samir. Ele esteve na confraternização do projeto antes das eleições, e nós todas confiamos nele para manter o projeto como estava. Estamos desapontadas e nos sentimos traídas com essa postura falsa. Desde o início, ele apoiou o Felipe e agora virou as costas, ainda contando inverdades.”, contou Nátaly.
A frustração das alunas aumentou ainda mais quando Samir, ao invés de defender a permanência de Platt no projeto, divulgou um vídeo ao lado do secretário de Segurança, coronel Evaldo Hoffmann, e de Gustavo Belz Souza, do CEFAG (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Guardas). No vídeo, ele reafirma a versão da prefeitura, dizendo que o projeto não foi encerrado, mas sim institucionalizado.
Para as alunas, a postura de Samir foi uma traição ao compromisso que ele assumiu durante a campanha eleitoral. “Foi o Felipe quem gentilmente abriu as portas para que ele estivesse na confraternização e pedisse nosso apoio. E agora, ele simplesmente reforça a narrativa da prefeitura sem sequer nos ouvir.”, relatou Nátaly.
A declaração do vereador apenas intensificou a revolta das alunas, que seguem cobrando respostas e exigindo que Platt volte ao comando do projeto.
O que diz a prefeitura
Na matéria oficial divulgada pela prefeitura sobre a reformulação do projeto, o nome de Felipe Platt foi completamente omitido. Em vez disso, o Secretário de Segurança, Evaldo Hoffmann, afirmou que, após cinco anos sendo conduzido pelo GM Felipe Platt, o projeto não poderia mais continuar da mesma forma durante sua gestão.
“Esse programa substitui o projeto anterior, que era ministrado aqui de maneira pessoal e não institucional, o que impossibilitava sua continuidade dentro da estrutura da Guarda”, declarou o secretário.
Hoffmann também enfatizou que a nova versão do projeto, batizada de “Luta por Elas”, está sendo criada com o objetivo de enfrentar os altos índices de violência contra a mulher na região. Segundo ele, a institucionalização traria maior estrutura e ampliaria o acesso ao conhecimento de defesa pessoal.
“Nós estamos criando este programa, de maneira institucional, para atender as mulheres da nossa comunidade, oferecendo a estrutura da nossa academia da secretaria, incluindo instrutores que irão permitir o acesso ao conhecimento de defesa pessoal. Nós sabemos hoje que nossa região tem altos índices de violência contra a mulher, e a Guarda Municipal fará a sua parte no combate a estes números, através do Programa Luta Por Elas.”
Além do secretário de Segurança, o diretor-presidente da Fundação Municipal de Esportes (FME), Diogo Catafesta, também se pronunciou na matéria oficial. Ele defendeu que a nova versão do projeto terá um ganho técnico devido ao apoio da FME e à inclusão de novos instrutores.
“O projeto, com apoio da FME, ganhará em qualidade técnica, uma vez que será disponibilizado professores capacitados para atuarem nas aulas que serão ministradas. Outro ponto importante é a institucionalização do Projeto Luta Por Elas, o qual terá garantia de continuidade como programa oficial de Balneário Camboriú”, destacou Catafesta.
Enquanto a prefeitura evita mencionar o nome de Felipe Platt na reformulação do projeto, a prefeita Juliana Pavan também tem se mantido em silêncio sobre o caso. No entanto, sua trajetória como vereadora revela que ela sempre teve conhecimento sobre a relevância do projeto e seu idealizador.
Durante seu mandato na Câmara de Vereadores, Juliana Pavan esteve presente em pelo menos duas entregas de moções de aplauso e congratulações que Felipe Platt recebeu pelo trabalho desenvolvido no projeto. Em uma dessas ocasiões, a então vereadora votou a favor da moção de aplauso, evidenciando que reconhecia a importância da iniciativa e do instrutor para a cidade.
Apesar disso, agora, como prefeita, Juliana optou por não se manifestar publicamente sobre a reformulação do projeto ou sobre as reivindicações das alunas que pedem a permanência de Platt.
Quem é Felipe Platt? A trajetória do idealizador do projeto
Enquanto a prefeitura tenta reformular o projeto ignorando sua história e seu criador, as alunas seguem defendendo a importância do instrutor Felipe Platt, que idealizou e conduziu a iniciativa nos últimos anos.
Felipe Borba Platt nasceu em Florianópolis no dia 12 de novembro de 1987. Guarda Municipal há cerca de dez anos e faixa preta de karatê, é registrado na Confederação Brasileira de Karatê desde 2008 e também é bacharel em Educação Física. Em 2019, Platt implementou o projeto de Defesa Pessoal Feminina na Casa da Mulher. Durante a pandemia, as aulas precisaram ser interrompidas, mas em 16 de janeiro de 2021, o projeto foi retomado na Secretaria de Segurança de Balneário Camboriú, onde se consolidou como uma iniciativa social da Guarda Municipal.
O projeto, que visa ensinar defesa pessoal para mulheres de todas as idades gratuitamente, já atendeu mais de mil alunas desde sua criação. Antes da suspensão imposta pela prefeitura, o grupo de alunas ativas girava em torno de 400 participantes.
Reconhecendo a relevância do trabalho de Platt, a Câmara de Vereadores concedeu a ele duas moções de reconhecimento nos últimos anos. A primeira, de aplauso, foi proposta pelo vereador Anderson Santos (PL), destacando a importância do projeto para a segurança das mulheres da cidade. A segunda, de congratulações, veio da vereadora Danielle Eloisa Serpa (PSD), enaltecendo o impacto do trabalho de Platt na sociedade.
Durante a cerimônia de entrega da moção de congratulações, realizada em março de 2024, Felipe fez um discurso emocionado, agradecendo às alunas e às pessoas que o apoiaram no projeto. O vídeo do discurso foi divulgado no Instagram do professor.
Na ocasião, Felipe Platt ressaltou a importância de seu mestre, Márcio Alexandre, que o ensinou tecnicamente e o adotou como aluno e filho. Mas um dos pontos mais marcantes de seu discurso foi a menção ao então secretário de Segurança, Castanheira, a quem dedicou palavras de profundo respeito:
“Meu segundo agradecimento é para uma pessoa, desculpa a palavra, um cara muito foda, né? Uma pessoa de muito caráter, de muita força, que me reconheceu não somente como profissional, mas sim o meu caráter como pessoa. Que é o secretário Castanheira. Eu me dedico muito à Guarda Municipal, com força, com o auxílio desse homem, que é um homem de caráter, é uma referência no Brasil todo como polícia, e eu digo como pessoa.”
Felipe também agradeceu aos colegas da Guarda, incluindo o amigo e braço direito Costa, e fez uma homenagem especial à sua mãe, Vera Lúcia Borba, que foi sua grande inspiração para criar o projeto.
“Queria dedicar a pessoa principal, a Dona Vera Lúcia Borba. Que me deu força, que foi um exemplo de mulher, um exemplo de força, a mulher que me deu a vida. Infelizmente ela não está presente no dia de hoje, mas com certeza está espiritualmente aqui, principalmente no meu coração. Se existe um amor verdadeiro, é o amor verdadeiro que eu tenho por ela.”
O vídeo do discurso, publicado em 16 de março de 2024, tornou-se um símbolo da luta das alunas pela permanência de Felipe Platt no projeto. Agora, com a notícia da sua exclusão, o vídeo recebeu dezenas de comentários indignados, reforçando o apoio ao instrutor. Veja alguns dos comentários:
- mariadefatima381: “Queremos nosso mestre de volta um ser humano magnífico e que se dedicava com muito amor ao projeto. Que ele volte ao nosso convívio! Te amamos, força, tudo dará certo.”
- eustephsantos: “Quanto orgulho… Parabéns, Felipe! Você merece muito o reconhecimento pela dedicação e empenho que tem ❤️👏👏”
- keziappassos: “Aguardando ansiosamente pela volta do nosso projeto com o nosso professor tão querido!”
- dani.cristofolini: “O Projeto de Defesa Pessoal Feminina precisa de você! Se o projeto aconteceu até hoje, foi principalmente devido à tua dedicação e persistência! 👏”
- andressadacosta95: “Estamos contigo, Felipe! Você irá continuar nesse projeto! 🙏🏻🙏🏻”
Apesar do apoio massivo das alunas, Felipe Platt optou por não dar entrevistas à imprensa, temendo represálias.