A recente tragédia climática que afetou as cidades de Camboriú e Balneário Camboriú, governadas por pai e filha da família Pavan, transformou-se em uma oportunidade para articulações políticas, expondo um cenário de disputa e interesses eleitorais que já apontam para 2026. Sob o pretexto de buscar soluções para os danos causados pela enxurrada, as ações da prefeita Juliana Pavan e do prefeito Leonel Pavan revelaram uma estratégia calculada, cujo alvo principal é descredibilizar a gestão estadual de Jorginho Mello (PL) e promover a figura de João Rodrigues (PSD), pré-candidato ao governo estadual.
Situação de emergência
O ponto de partida para o desgaste político começou com as ações da prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan, que rapidamente decretou situação de emergência diante da enxurrada que atingiu a região. No entanto, apesar do discurso de urgência, o pedido formal de ajuda ao governo estadual foi protocolado somente no dia seguinte ao decreto, um fato que gerou questionamentos sobre a verdadeira intenção por trás da narrativa de “desamparo” propagada por Juliana.
Enquanto isso, o governador Jorginho Mello, ao perceber a movimentação da prefeita, orientou publicamente para que “não fosse feito alarde”. Essa recomendação baseou-se na garantia de que o governo estadual estava prestando todo o suporte necessário à cidade. De acordo com o secretário estadual de Defesa Civil, o prazo padrão para entrega de itens emergenciais seria de até 48 horas, mas, devido à gravidade da situação, a entrega foi concluída em menos de 24 horas. Apesar disso, o discurso alarmista da prefeita não cessou.
Politicagem
A rápida entrega de recursos e o suporte prestado pelo governo do estado não impediram que a prefeita continuasse a criticar a resposta estadual, enquanto enaltecia ações de outros políticos, especialmente do prefeito de Chapecó, João Rodrigues. Vídeos divulgados pela administração municipal mostram Juliana Pavan, Leonel Pavan e João Rodrigues juntos, exaltando a chegada de máquinas pesadas enviadas de Chapecó para a recuperação de áreas afetadas em Camboriú e Balneário Camboriú. O tom dos vídeos, contudo, não deixou dúvidas: o objetivo era promover Rodrigues, destacando sua prontidão em detrimento das ações do governador.
“Olha o que está chegando de Chapecó, pra recuperar aí os bairros, recuperar as vias, pra dar todo o suporte possível, pra deixar as Camboriú’s no eixo”, declarou Juliana em um vídeo gravado ao lado de João Rodrigues, que respondeu: “Só viemos porque vocês chamaram.” A cena ganhou conotação política evidente, colocando em evidência uma aliança estratégica entre a família Pavan e João Rodrigues, já de olho na disputa pelo governo estadual em 2026.
Exagero e contradições
Enquanto Juliana Pavan reforçava sua narrativa de emergência e desamparo, os números oficiais indicavam uma situação mais controlada do que o discurso fazia parecer. Até a tarde de sábado (18), apenas duas pessoas de uma mesma família estavam abrigadas em Balneário Camboriú, e, no total, 50 famílias haviam solicitado ajuda. Ainda assim, a prefeita insistiu em insinuar falhas na resposta estadual, mesmo quando ela própria declarou que a situação já estava “normalizada” e que “tudo estava sob controle”.
Solidariedade ou promoção pessoal?
Os vídeos promovendo João Rodrigues foram divulgados mesmo após o governo do estado cumprir todas as solicitações feitas pela prefeitura. Essa insistência em atribuir protagonismo a Rodrigues, enquanto minimizava o papel da gestão estadual, reforça a suspeita de que o objetivo era capitalizar politicamente sobre a tragédia, em vez de priorizar soluções efetivas para a população.
A chegada de máquinas enviadas de Chapecó, localizada no extremo oeste do estado, gerou questionamentos sobre a necessidade real dessa ajuda ou se ela foi apenas uma oportunidade para criar material de campanha.
A tragédia como palco para 2026
Com a aproximação das eleições de 2026, a família Pavan parece determinada a usar a tragédia para enfraquecer Jorginho Mello, enquanto pavimenta o caminho para João Rodrigues. No entanto, a politização de uma situação que deveria priorizar a recuperação e o bem-estar da população expõe um tipo de estratégia que não só desvirtua o debate público, como também levanta dúvidas sobre a seriedade com que as lideranças locais tratam o interesse coletivo.
A tragédia climática, que deveria ser um momento de união e cooperação entre os diferentes níveis de governo, acabou sendo transformada em um palco de disputas políticas. Enquanto isso, a população continua a sofrer as consequências de um desastre que, em vez de unir, acabou revelando as profundas divisões e os interesses ocultos que moldam a política catarinense.