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Engajamento ou exoneração? Como a Prefeitura de BC organiza sua tropa digital nas redes

À serviço da narrativa, comissionados seguem ordens para blindar governo municipal nas redes sociais

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Militância digital. Se você nunca foi alvo de um ataque coordenado na internet, provavelmente já presenciou a atuação organizada de certos perfis em postagens nas redes sociais. Sabe quando alguém publica uma crítica ao governo e, em poucos minutos, surgem vários comentários com mensagens semelhantes, feitas quase ao mesmo tempo? Ou quando você entra em um vídeo de político — ou do governo — e encontra uma sequência de elogios repetitivos, todos feitos de forma sistemática? Isso pode ser a atuação de militantes digitais.

A prática, comum em períodos eleitorais, também foi observada nas últimas eleições, quando parte de uma mobilização espontânea, motivada por paixão política ou ideologia, é uma realidade do ambiente digital. Mas e quando essa estrutura é movida pela máquina pública? Quando quem está por trás dos comentários ocupa cargo comissionado, segue ordens diretas de chefia e atua sob risco de exoneração? Isso seria correto?

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O Click Camboriú teve acesso a mensagens trocadas no grupo de WhatsApp intitulado “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita”, que reúne cerca de 210 integrantes, entre eles diretores, secretários, assessores e a própria prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan.

grupo edited

As conversas revelam que o grupo é utilizado como uma espécie de central de comando de militância digital, na qual servidores comissionados da administração municipal recebem instruções explícitas sobre como atuar nas redes sociais, especialmente em postagens relacionadas à prefeita, à prefeitura e a aliados do governo. Os comandos são acompanhados, em algumas ocasiões, por advertências veladas ou mesmo ameaças de exoneração, dirigidas a quem se omitir ou não demonstrar engajamento.

Além da mobilização coordenada para respostas a críticas, o grupo também é utilizado com o objetivo de inflar artificialmente o apoio institucional nas redes, com pedidos para que os servidores curtam, compartilhem e comentem publicações específicas, simulando uma aprovação popular das ações do governo.

Manda quem pode?

via portaria edited

Embora a prefeita Juliana Pavan (PSD) participe do grupo e encaminhe mensagens cobrando mais engajamento de seus aliados, quem comanda a operação de fato é o Secretário da Casa Civil, Leandro Arthur Rodrigues da Silva, mais conhecido como Índio. É ele quem dita ordens, distribui tarefas, cobra resultados e ameaça quem não se alinha.

Em diversos momentos, Índio atua como o articulador central da militância digital. É ele quem define o que deve ser comentado, onde, como e por quem. Com tom autoritário, impõe seus comandos de forma explícita, como demonstra a seguinte mensagem enviada ao grupo:

“Então nós iremos resolver. Os compromissos da prefeita são os nossos compromissos. Precisamos de atitude e decisão. Quem não quiser decidir, receberá a decisão do gabinete via portaria.

A mensagem pode ser interpretada como uma ameaça de exoneração. A “decisão do gabinete via portaria” é o procedimento administrativo formal para desligamento de comissionados. O tom adotado por Índio não deixa margem para dúvidas: seguir a cartilha do governo é tratado como dever funcional. Quem não obedece, está fora.

E você pode até pensar: tudo bem, cargos comissionados devem mesmo ter lealdade ao governo. Mas será que isso inclui a obrigação de integrar uma militância digital? Os cofres públicos devem ser usados para financiar esse tipo de atuação política?

Chefe da Casa Civil ou chefe das narrativas?

Em outro momento das conversas, o Secretário da Casa Civil de Balneário Camboriú, Leandro Índio, envia uma série de mensagens no grupo “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita” com instruções detalhadas sobre como os integrantes — todos os diretores e coordenadores comissionados na Prefeitura — deveriam se posicionar nas redes sociais em resposta a um vídeo de um vereador que estaria criticando o aumento do IPTU promovido pela atual gestão.

Embora Leandro não mencione diretamente o nome do vereador, uma mensagem encaminhada na sequência por outra pessoa sugere que o conteúdo em questão era de autoria de Jair Renan Bolsonaro (PL). No print capturado da conversa, o vídeo aparece com três reações de emoji no grupo: um de vômito, um de fezes e um de enjoo, evidenciando a reação negativa de parte dos participantes à crítica.

As mensagens foram enviadas a partir das 14h12:

Índio: “Boa tarde a todos!
Acabei de assistir um vídeo de um vereador, falando sobre os projetos enviados para a Câmara pelo atual governo.
No mesmo pacote, foi apresentada proposta de Refis e de diminuição de ITBI.
Não queremos e não podemos fazer guerrilha virtual, pois esse não deve ser o papel de mobilização de um governo.
Devemos trazer argumentos, defender a verdade e garantir que narrativas distorcidas não se tornem verdade.”

Pergunto a todos:

  1. Quem contratou o processo de revisão da planta genérica de valores?
    • Administração 2017/2024.
  2. Quanto custou este processo administrativo?
    • 10 milhões.
  3. Em quanto tempo eles queriam implantar a nova planta?
    • 4 anos.
  4. Desde quando o projeto estava na Secretaria de Articulação para ser enviado à Câmara!?
    • Desde o término das eleições municipais – outubro/2024.
  5. Quais as mudanças projetadas pelo novo governo para diminuir o impacto e tornar o processo mais gradativo?
    • A implantação que seria em 4 anos, agora será em 8 anos.
    Na proposta anterior, no primeiro ano já teriam um aumento de 40%.
  6. A proposta tem como foco o aumento de impostos?
    • Não, o foco é garantir justiça tributária e social. Além disto, propõem-se vincular boa parte destes recursos com investimentos nos bairros.
  7. Quais outras medidas foram tomadas pelo antigo governo, que supostamente era de direita? Vamos comparar com o governo Bolsonaro.
    • Bolsonaro deu 33% de reajuste no piso dos professores. Em BC, deram calote e se negaram a pagar.
    • Bolsonaro tinha 22 ministérios. Aqui eram 33 secretários. Com a reforma administrativa, cortamos 8 secretarias.
    • Bolsonaro proibiu o lockdown. BC foi uma das primeiras do estado a implantar o fechamento de tudo na pandemia.”

“Vários são os argumentos que devemos utilizar para combater a desinformação.
Pedimos que conversem com amigos, parentes e time próximo, para que façamos uma força-tarefa de respostas aos posts que vão surgir na tentativa de enganar a sociedade.
Contamos com o apoio e ação/articulação imediata de todos!”

“O antigo governo, do PL, deixou um aumento de 14% na taxa de água e esgoto para estourar no colo da prefeita. Assim como a planta genérica de valores, eles contrataram e pagaram. Agora vêm com discurso de que são ações do novo governo.
Precisamos desmascarar!”

“Contamos com os comentários e defesas de todos em ambos os vídeos.
Lembrando também que ontem o PL fez acordo com o PT na eleição das presidências da Câmara e do Senado. Haja santa hipocrisia.”

Cerca de 5 minutos após a última mensagem, às 14h41, Índio volta a se manifestar, agora em tom de cobrança direta aos comissionados que não estariam engajados:

Índio:
“Vejo muitos cargos comissionados divulgando vídeos positivos sobre as ações do governo quando podem capitalizar, mas tomam Doril quando tem de se posicionar de forma efetiva. Aí fica difícil.”

Comissionados também reforçam orientações e inflam discurso político

Além das instruções enviadas por Leandro Índio, a movimentação no grupo não se restringe ao alto escalão da Casa Civil. Outros cargos comissionados também demonstram alinhamento e participação ativa na mobilização digital coordenada.

É o caso de Leonardo Vieira, que aparece no print organizando uma movimentação de engajamento. Em resposta ao vídeo publicado por Renan Bolsonaro, Leonardo colou no grupo um print com dois comentários feitos por outros comissionados e desenhou setas indicando quais mensagens deveriam ser curtidas pelos colegas, numa tentativa de destacar essas interações no topo da publicação.

Na sequência, escreveu:

“Sempre curtir os comentários do nosso pessoal! Isso ajuda 🚀”

Os comentários em questão receberem dezenas de curtidas vindas de comissionados.

Um exemplo é o de Ronaldo Camargo, que ocupa o cargo de Diretor do Departamento de Governo Eletrônico e Inovação, vinculado à Secretaria Municipal de Governo, Inovação e Orçamento. Em resposta ao debate sobre as críticas feitas à gestão municipal, Ronaldo escreveu no grupo:

“Comentado, pau em cima dessa raça, vamos transformar Bal. Camboriú! 🚀🚀🚀🚀🚀”

Nossa equipe também encontrou o comentário de na publicação de Renan:

Comentários orquestrados?

O Click Camboriú identificou diversos comentários feitos por servidores comissionados diretamente na publicação do vereador Renan Bolsonaro, que criticava o aumento do IPTU. As mensagens seguem exatamente os pontos e argumentos orientados por Leandro Índio no grupo de WhatsApp, demonstrando uma ação coordenada para defender a gestão nas redes sociais.

Entre os comentários publicados nas redes, há servidores que reproduzem os argumentos enviados por Leandro Índio no grupo interno, demonstrando alinhamento com a estratégia definida.

O comentário que mais se aproxima da cartilha enviada por Leandro Índio foi publicado por Sarah Domingues Braggio, que ocupa o cargo de assessora executiva do vice-prefeito Nilson Probst. Em resposta ao vídeo do vereador Renan Bolsonaro, Sarah repete com precisão quase cirúrgica os principais tópicos da orientação postada no grupo de WhatsApp, abordando todos os sete pontos centrais indicados previamente pelo chefe da Casa Civil.

video bolsonaro sarah

Outro exemplo é o da coordenadora de Emprego e Cooperativismo, Patrícia de Jesus da Rocha, lotada na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico. Em resposta a um vídeo publicado pelo vereador Renan Bolsonaro (PL), Patrícia comentou no Instagram:

video bolsonaro patricia

Outro comentário que segue a linha orientada por Leandro Índio no grupo foi feito por Cleo Marino Alves Junior, diretor do Departamento de Dívida Ativa, lotado na Secretaria Municipal da Fazenda. Embora não seja uma cópia literal das instruções, a mensagem reproduz os principais argumentos sugeridos, como o número de secretarias, o custo do processo da planta genérica, o tempo de implantação e o foco em justiça tributária.

Ele escreveu:

video bolsonaro cleo

Outro comentário bastante alinhado é o de Dione Cristina Liz de Jesus, coordenadora de RH da Saúde, lotada na Secretaria Municipal de Gestão de Pessoas. Ela também repete os principais pontos da cartilha: responsabiliza a antiga gestão, reforça o valor gasto na contratação da planta genérica, defende o parcelamento em 8 anos e afirma que o objetivo não é aumento de impostos, mas “justiça tributária e social”.

video bolsonaro dione

Outro comentário que segue a linha de defesa institucional articulada no grupo interno da prefeitura é o de Andressa Hadad, diretora geral do Hospital Municipal Ruth Cardoso. Em resposta ao vídeo publicado por Renan Bolsonaro, Andressa escreveu:

video bolsonaro andressa

Lucas Wendhausen Pollon, diretor do Departamento de Licenciamento e Fiscalização Ambiental, também comentou no vídeo de Jair Renan Bolsonaro replicando os mesmos argumentos disparados por Leandro Índio no grupo de WhatsApp. No comentário, ele reforça a narrativa de que a atual gestão apenas deu continuidade a medidas herdadas:

lucas

Outro integrante do governo que seguiu a estratégia digital coordenada pelo grupo foi Moisés Willian Peixoto, que ocupa o cargo de diretor geral da Secretaria Municipal de Obras. Em resposta ao vídeo de Renan Bolsonaro, publicado nas redes sociais, Moisés replicou um dos principais argumentos articulados por Leandro Índio no grupo de WhatsApp “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita”.

video bolsonaro moises

Allan Bencks Carvalho, que ocupa o cargo de diretor geral da Fundação Municipal de Esportes, também participou ativamente da mobilização digital em defesa da gestão da prefeita Juliana Pavan. Em resposta ao vídeo crítico publicado por Jair Renan Bolsonaro, o comissionado publicou um comentário que, embora carregado de tom pessoal, ecoa com precisão os argumentos divulgados previamente no grupo de WhatsApp.

video bolsonaro alan bencks

Outro exemplo de alinhamento com as instruções internas é o comentário feito por Claudio Renato Kraus Junior, diretor do Departamento de Fiscalização Fazendária, lotado na Secretaria Municipal da Fazenda. Em resposta ao vídeo publicado por Renan Bolsonaro, o servidor segue a mesma linha argumentativa previamente disseminada no grupo de WhatsApp comandado por Leandro Índio:

video bolsonaro claudio

Outro comentário que chama atenção pela aderência quase literal às instruções repassadas no grupo “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita” é o de Gilson Roberto Bordin, que ocupa o cargo de diretor geral na Secretaria Municipal da Fazenda.

Em resposta ao vídeo publicado pelo vereador Renan Bolsonaro (PL), Bordin escreveu:

bording

Outro comentário que segue a mesma linha argumentativa divulgada no grupo de WhatsApp “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita” foi feito por Maria Cidineia Marques dos Santos, mais conhecida como Neia Santos, que ocupa o cargo de diretora do Departamento de Promoção Social, vinculada à Secretaria Municipal da Assistência Social, Mulher e Família.

Usando o perfil identificado como @neiaservsocial, Neia comentou:

video bolsonaro neia

“Evitem 1DOC”

1doc edited

Em uma das mensagens trocadas no grupo “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita”, Leandro Índio, chefe da Casa Civil de Balneário Camboriú, desencoraja o uso da plataforma oficial de tramitação digital da Prefeitura — a 1Doc — para determinadas demandas administrativas.

A 1Doc é uma ferramenta institucional criada para garantir rastreabilidade, transparência e segurança jurídica nos processos públicos. Nela, todos os documentos e solicitações são protocolados e registrados digitalmente, com possibilidade de acompanhamento por qualquer cidadão ou órgão de controle.

Apesar disso, Índio sugere evitar esse meio formal em determinadas situações. Em um print do grupo, após uma mensagem enviada pelo contato “Ed Marketing” — Edvaldo Alves Rocha Junior, conhecido como Ed Jr., diretor de Artes da Fundação Cultural —, fica evidente a tentativa de driblar o trâmite oficial.

Indio: “A praça da Bíblia precisa de atenção no paisagismo.”
Ed Marketing: “Foi enviado 1DOC ao secretário Cristiano e ao diretor @~Moisés Peixoto para iniciarmos algumas intervenções na praça, já está sendo dado prosseguimento.”
Indio (em resposta):Algumas questões evitem 1Doc, peguem o telefone, chamem para ver o problema in loco. Paguem um café (ou um caldo de cana). Resolve mais rápido.” (Mensagem editada)
Reação: “Rsrs”

A fala de Índio, além de desprezar o uso de uma ferramenta pública voltada à legalidade e à transparência, sugere o tratamento de questões administrativas por vias informais e sem registro institucional. A recomendação pode ser vista como uma forma de esvaziar os mecanismos de controle e fiscalização da gestão pública municipal.

Apoio massivo nada orgânico

Sabe quando você acessa uma publicação da Prefeitura de Balneário Camboriú, de algum apoiador do governo ou da própria prefeita, e encontra apenas elogios nos comentários? Parte desse comportamento pode ter origem no grupo “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita” e outros grupos semelhantes.

Prints obtidos pelo Click Camboriú revelam que a mobilização para gerar essa sensação de aprovação nas redes sociais é organizada dentro do grupo, com pedidos explícitos para que os comissionados participem ativamente das publicações da prefeita. As cobranças partem tanto de Leandro Índio, chefe da Casa Civil, quanto da própria prefeita — embora, neste caso, ela adote uma postura indireta.

Em vez de fazer a cobrança por conta própria, Juliana Pavan encaminha ao grupo uma mensagem recebida de outra pessoa, sugerindo o engajamento dos servidores:

mensagem encaminhada por juliana pavan edited

Juliana Pavan Von Borstel (mensagem encaminhada):
“Prefeita, boa noite
Pede para seus diretores, secretários e coordenadores, cargos de confiança principalmente, deveriam ajudar a divulgar todo material que a senhora posta sobre o governo.
Essa obra da macrodrenagem é muito importante. E é a maior do Brasil. Um grande marco histórico para o município.
Me desculpe me meter, mas sinto que falta um pouco mais de atenção por parte do governo em relação a isso. Inclusive já comentei com alguns vereadores da base do seu governo sobre isso.”

“Não sei quem é o responsável por essa mobilização das suas redes, mas você posta muito conteúdo importante sobre o governo.
Teu grupo tem que ajudar a divulgar. Pois são da sua confiança 👍
Quem tá junto tem que ajudar a divulgar.”

Ao optar por compartilhar a crítica de terceiros ao invés de fazer a cobrança diretamente, a prefeita parece evitar o desgaste político de uma ordem explícita, mas ao mesmo tempo sinaliza a expectativa de que seus subordinados atuem na linha de frente da militância digital. A mensagem reforça o tom de cobrança constante dentro do grupo, onde o silêncio nas redes sociais pode ser interpretado como deslealdade.

“Já comentei lá!”

Além das ordens e orientações para impulsionar publicações da prefeita Juliana Pavan nas redes sociais, os prints do grupo “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita” revelam também a resposta imediata de comissionados que informam já ter seguido a instrução.

mensagem encaminhada por juliana pavan2 edited

As mensagens demonstram a prontidão de parte da equipe em atuar conforme as diretrizes do grupo.

Artaleto da Silveira, diretor do Departamento de Esporte Comunitário da Fundação Municipal de Esportes:
“Opa… meu comentário já está lá… feito”

Silvana Siqueira Borges de Melo, coordenadora do SESMT da Secretaria de Gestão de Pessoas:
“Boa noite prefeita!!! Eu sempre posto, inclusive no meu TikTok 😋🥰”

Luis Fabiano dos Santos, coordenador de Cadastro Fazendário da Secretaria da Fazenda:
“Já tem comentário lá! 👊👊”

As respostas, reforçam o clima de cobrança e a naturalização de uma mobilização digital interna, onde cargos de confiança são tratados como base de apoio digital da prefeita — não apenas no desempenho de suas funções, mas também na defesa e promoção da imagem política da gestora.

Na publicação da prefeita em seu Instagram pessoal sobre a obra de macrodrenagem também foi possível encontrar o apoio dos coordenadores e diretores.

Prints também mostram uma movimentação coordenada para reagir a críticas e comentários negativos direcionados à prefeita — com ordens diretas do chefe da Casa Civil, Leandro Índio.

video juliana edited

Em 21 de fevereiro, Índio encaminhou ao grupo um vídeo publicado nas redes sociais da prefeita, referente ao comunicado sobre o BCPrevi e o Funservir, e pediu que os membros entrassem nos comentários para rebater críticas:

Índio:
“Importante comentarmos hoje, após o expediente, no post sobre o projeto do BC Previ. Vários comentários que precisam de nossa explicação; informações e sobretudo defesa.”

Na imagem é possível ver que Leandro encaminhou um comentário especifico de uma servidora que questiona diretamente onde está o dinheiro pago mensalmente pelos servidores ao Funservir. Identificamos que esse comentário foi respondido por Tania Corrêa — coordenadora de Atendimento ao Público do Hospital Municipal Ruth Cardoso. Tania foi tão precisa e alinhada em sua defesa do governo que chegou a ser confundida com uma assessora de comunicação por outro usuário.

cometem iptu edited

Cortina de fumaça?

Em outra ocasião, Leandro Índio compartilhou no grupo um link de uma publicação oficial da Prefeitura de Balneário Camboriú no Instagram. O vídeo em questão negava que houvesse aumento no IPTU e classificava como “fake news” os conteúdos que apontavam o contrário. Diante da baixa adesão dos integrantes à estratégia de defesa digital, Índio cobrou:

“Raros integrantes deste grupo interagiram neste post pessoal!”

Enquanto moradores cobravam explicações e denunciavam o impacto real do reajuste no carnê do IPTU, diretores e coordenadores, obedecendo à determinação de Leandro Índio, passaram a comentar mensagens positivas no vídeo oficial. Mesmo diante de críticas sobre falta de transparência, o grupo comissionado se mobilizava não para prestar esclarecimentos à população, mas para reforçar a narrativa da gestão.

A ação coordenada sugere que o objetivo da publicação não era apenas informar, mas abafar o debate público — desviando o foco das críticas e criando uma falsa sensação de aprovação popular. Uma cortina de fumaça virtual, sustentada por servidores públicos, para proteger a imagem do governo.

Vigiados?

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A falta de engajamento também passou a ser motivo de vigilância entre aliados. Em outro print, Índio encaminha ao grupo uma mensagem recebida em tom de alerta, revelando que há pessoas de fora observando quem está — ou não está — participando da “milícia digital” montada pelo governo:

Índio 👊👊 (mensagem encaminhada):
“Boa tarde meu digníssimo amigo Índio…
Tô só de zoio naquele grupo de diretores e coordenadores 😝 tem um monte de coordenadores que estão ali que nem vejo fazer nada, nem comentar nada, e nem nada 😠”

O conteúdo reforça que a atuação política dos comissionados nas redes sociais não é espontânea, mas sim controlada, monitorada e cobrada internamente, com atenção redobrada à ausência de engajamento daqueles que ocupam cargos de confiança.

A ponta do iceberg?

Vale ressaltar que o grupo que o Click Camboriú teve acesso reúne apenas diretores e coordenadores comissionados da Prefeitura de Balneário Camboriú. Mas será que existem outros grupos semelhantes, organizados em diferentes níveis de hierarquia? Será que todos os ataques a críticas e os elogios sistemáticos fazem parte de uma estrutura orquestrada de comunicação política envolvendo toda a máquina pública municipal?

A existência de um grupo com mais de 200 comissionados já revela uma engrenagem robusta de controle e mobilização digital. Se há mais grupos atuando de forma semelhante, os episódios observados podem ser apenas a superfície de uma estratégia mais ampla — uma rede estruturada para defender a gestão e silenciar críticas nas redes sociais.

Fica a reflexão sobre os comportamentos articulados nas plataformas digitais quando o que está em jogo não é apenas opinião, mas o uso da estrutura pública como ferramenta política.

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