Uma vítima de violência doméstica, que foi alvo de uma ocorrência atendida pelos bombeiros na última segunda-feira, dia 23, compartilhou um relato impactante sobre o que a dependência emocional causa em uma pessoa que sofre abusos. Seu testemunho destaca a grave questão desta dependência que muitas vezes mantém as vítimas em situações de risco e a falta de suporte adequado para essas mulheres.
A vítima de 24 anos, que não quer ser identificada, manteve um relacionamento de três anos com o agressor e já perdeu três bebês dele. Algumas das agressões ocorreram enquanto ela estava grávida. O primeiro incidente ocorreu em dezembro de 2021, mas a vítima não prestou queixa e o casal seguiu 11 meses sem registros de violência, um novo episódio ocorreu em novembro de 2022, quando a mulher foi novamente agredida, dessa vez na presença da avó do agressor. Novamente, a vítima optou por não relatar o incidente, e a questão foi resolvida entre as famílias.
Em março de 2023, a situação atingiu seu ápice quando a polícia atendeu uma ocorrência em que o agressor agrediu brutalmente a vítima, resultando em sua prisão. No entanto, movida pela dependência emocional que lhe aflinge, a mulher retirou a queixa e tirou o agressor da prisão, apesar de estar gravemente ferida.
As agressões evoluíram quando o casal passou a morar junto no início de 2023, período em que a vítima esperava um bebê. De janeiro a outubro o casal esteve envolvido em varias ocorrências de violência. Em março de 2023, a situação atingiu seu ápice quando a polícia atendeu uma ocorrência em que o agressor agrediu brutalmente a vítima, resultando em sua prisão. No entanto, afetivamente submissa, a mulher não prestou queixa e tirou o agressor da prisão, apesar de estar gravemente ferida.
Menos de um mês depois, o agressor a espancou novamente, causando sérios ferimentos em seu rosto, olhos, cabeça e extremidades. Mesmo diante dessas agressões, ela optou mais uma vez por não denunciar o abuso.
O relacionamento chegou ao fim em junho de 2023, mas na última segunda-feira, dia 23 de outubro, a mulher foi novamente agredida pelo ex-companheiro. Desta vez, populares testemunharam o ataque e agrediram o agressor. A mulher interveio para proteger seu ex-marido, temendo que ele fosse morto. “Ele já estava desfalecido, fui apenas bondosa”, relatou a vítima.
Apesar de ter defendido o agressor do linchamento público, a mulher decidiu finalmente denunciá-lo. Ela sofreu graves ferimentos, incluindo um dente quebrado, e foi encaminhada para atendimento médico e, posteriormente, para a delegacia, onde registrou a ocorrência. No entanto, o agressor foi liberado e apareceu em sua casa no dia seguinte.
A vítima revela que, embora tenha perdido a conta das vezes em que foi agredida, só fez duas denúncias formais. Ela explica que tem consciência do apego excessivo que a impede de agir em sua própria proteção e enfatiza o papel da violência psicológica nesse contexto: “Extremamente dependente emocional. Sou muito consciente e entendo as coisas, inclusive quando se trata do meu ex-relacionamento, única coisa que não entendendo é o motivo dele ter me batido tanto e me ameaçado tantas vezes de morte, e usar a desculpa de que foi o álcool depois de tudo o que passei com ele, até traição perdoei”.
A mulher também revela que a falta de sensibilidade de alguns profissionais das forças de segurança no atendimento da ocorrência dificultam a decisão de denunciar: “Alguns acabam até tirando sarro por algumas das várias vezes que vamos parar na delegacia por violência doméstica. Ano passado tinha um homem que, todas as vezes que parei lá, dava risada quando me via. Dá pra entender o sarcasmo, né. Mas nunca me destrataram, apenas uns são sarcásticos”. Ela também relata que percebeu que o fato dela não ter dado queixa em algumas ocorrências, a própria policia anula a gravidade da situação e não querem mais se envolver.
Quando questionada sobre seu medo de retaliação, a vítima afirma que não tem mais medo e que está pronta para enfrentar seu agressor. Essa atitude sugere uma falta de compreensão da gravidade da situação e realça a necessidade de conscientização e apoio às vítimas de dependência emocional.
A vítima também relatou que nunca recebeu suporte psicológico quando foi levada para a delegacia e citou que em uma das vezes pediu uma medida protetiva mais não sabe se concederam, pois não entregaram nenhum papel pra ela.
Nossa equipe orientou a vítima a buscar ajuda psicológica e pedir uma medida protetiva.
Aumento de feminicídios em 2023 em SC
O estado de Santa Catarina registrou um aumento de 3% nos feminicídios nos seis primeiros meses de 2023, totalizando 30 mortes, em comparação com as 29 ocorridas no mesmo período do ano anterior.
No última segunda-feira, 23, um feminicídio foi descoberto em Balneário Camboriú. Esse foi o único caso registrado na cidade em 2023.
Como pedir ajuda
- Polícia Militar: 190
- Guarda Municipal: 199
Sala Lilás:
A Delegacia de Plantão de Polícia possui um espaço chamado Sala Lilás, projetado para oferecer atendimento especializado e humanizado às mulheres vítimas de violência, seja ela física, sexual, psicológica, patrimonial ou moral. A delegacia está localizada na Rua Inglaterra, 115, no Bairro das Nações, em Balneário Camboriú.